Tuas olheiras são aves agoureiras das noites hibernais do mês de agosto, negras freiras, santas confessoras de tua vida tétrica de abrolhos.
Cofre sagrado, conchas protetoras das turquesas dos teus olhos.
Tuas olheiras imprudentes, comprometedoras, são sinais patentes, provas esmagadoras das noites de volúpias em leitos indolentes, em que andaste a folhear seus beijos quentes em espasmos sensuais de sonhos luxuriosos.
Tire, por favor, essas olheiras, não me olhes mais... Quem as têm são as rameiras, mulheres vis das bacanais... Cantáridas ferazes desses desejos com que tu me avassalas quando estou a fitá-las... Tenho ânsia de matá-la em lúbricos arquejos, vontade de apagá-las com a esponja rubra dos meus beijos.
Tire, por favor, essas olheiras, não as uses mais.
Marcilio Dias (1838 - 1865)